FacebookNet é como esta sendo chamado o Internet.org

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Muito se fala de privacidade, cuidados com os seus dados e muito mais, e tudo ficou pior com as denúncias feitas por Edward Snowden feitas sobre o processo de vigilância do Governo Americano. Nestas últimas semanas temos discutido sobre um polêmico projeto patrocinado pelo Facebook chamado Internet.org.

Este projeto tem basicamente o objetivo de levar para regiões e populações pobres a possibilidade de se conectar a Internet, nada mais e nem nada menos. Segundo as pesquisas, inclusive feita pelo próprio Facebook, 1 em cada 3 pessoas no mundo não tem acesso à rede, e estamos falando de quase 5 bilhões.

O que tem de ruim nisso ? Bom, um ditado bem antigo diz que "não existe almoço grátis!" O que o Facebook faz ? Coloca pessoas em contato umas com as outras ? Claro que não, se ilude quem acha isso, o Facebook, assim como o Google e muitas outras empresas, são empresas de dados, de informações de pessoas, e estas informações são vendidas para outras empresas ou são usadas pela própria empresa para vender seus serviços ou de seus parceiros. Em uma recente pesquisa "interna" do Facebook, que buscava saber se eles conseguiriam influenciar na percepção de sentimento dos usuários da rede, ficou provado que com pouca manipulação de informações na timeline dos usuários, era sim possível mudar a percepção de uma pessoa sobre um assunto.

E porque estamos falando disso em um artigo relacionado ao patrocínio de um projeto de "caridade"? Bom, porque em primeiro lugar este não é um projeto de caridade, e o funcionamento deste projeto já demonstra muito isso. O que o Facebook esta se propondo a fazer é subsidiar a crianção de uma estrutura que possibilite o acesso desta população à Internet, sendo que muito especialistas estão dizendo que o que vai ser criado é uma grande Intranet, uma rede que passa por dentro da rede do Facebook, possibilitando que a empresa tenha o controle total sobre tudo que trafega nesta rede. 

Além disso, especula-se que esta rede não seria um aInternet livre, pois poderia ser "entregue" a empresas que tenham o interesse em ter contato com este público, limitando o acesso de seus usuários aos produtos e serviços das empresas que pagam por isso, mais uma vez criando um "tanque" de consumidores onde as empresas poderiam pescar dentro.

Mesmo que seja o contrário que esta sendo dito pelo Facebook, a intenção não é permitir o acesso de pessoas de baixa renda a serviços essenciais, é sim um forma de criar um "pool" de pessoas, que poderão ter seu perfil de consumo e vida traçado pelos algoritmos super inovadores do Facebook, e usado por sua equipe de antropólogos para traçar novas expectativas de mercado e consumo, melhorando e muito sua própria empresa. Como disse antes, nada é de graça, e se engana quem acredita que sim. E isso nem esta de todo errado, pois temos que ver estas empresas como realmente são, EMPRESAS e empresas tem que ganhar dinheiro.

O problema que vejo nesta iniciativa é a caracterização de "caridade" quando na verdade isso nada mais é do que um novo passo para alimentar a enorme base de dados sobre a população mundial dentro de uma rede social. Você já parou para pensar em quanto de informação esta disponível, de forma pública no Facebook ? Faça um exercício e tente traçar um perfil de alguém de seu perfil, você vai se assustar.

Mas voltando, porque esta sendo tão questionado este projeto ? Bom, primeiro que no Brasil esse projeto fere alguns artigos do Marco Civil, principalmente quando falamos em neutralidade de rede. Como no Brasil, em muitos outros Países este projeto não é unanimidade, chegando a ser banido em países como o Canadá, Chile, Holanda e Eslovênia. Também tem sido muito questionado pelo CGI.br por, mais uma vez, criar uma ideia de "jardins murados".

Então, o que podemos falar sobre este projeto ? Bom o que já falamos antes, o Facebook não é uma entidade de caridade, é uma empresa, e como diz um artigo no The Guardian, o "pobre" vai pagar por este projeto com seus dados, e diria mais, não só o pobre, todos nós que temos uma conta em qualquer rede social pagamos a "gratuidade" do serviço com nossos dados. E a solução não é tão simples como se possa imagina, do tipo, vou fechar minha conta. Bom para aqueles que não usam suas contas do Facebook ou do Google para se registrar em outros serviços até podem, mas todo o restante que usa suas contas, estes estão vinculados para "sempre" com estas empresas, a não se que estejam dispostos a perder o acesso a todos os outros serviços.

Então, para fecharmos, o que é o projeto Internet.org ? Bom, para mim, e para outros como o pesquisador Evgeny Morozov, que em uma entrevista à Época fala sobre o assunto, o projeto nada mais é do que uma grande jogada comercial, visando melhorar a posição do Facebook no mercado, capturando dados, aprendendo o comportamento das pessoas e vendendo estas informações para outras empresa ou usando ela mesma, sem falar na possibilidade de tais dados serem usados por Governos e Agências Governamentais, como a dos EUA ou mesmo do Brasil, que tem estreitado seu relacionamento com a empresa, já muito conhecida por aceitar determinações de fornecimento de dados de usuários, muitas vezes sem nem precisar de ordem judicial.

Quem não tiver problema com isso que continue colocando seus dados de forma grátis para a empresa, mas tem que ter consciência sobre isso, este sim é o maior problema que vejo, entregar um serviço a uma população muito mal informada dizendo que é livre e gratuito.

Só para fechar uma frase sobre caridade.

A fingida caridade do roco não passa, da sua parte de mais um luxo; ele alimenta os pobres como cães e cavalos.
--- Jean Jacques Rousseau

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